Técnico Taguspark numa palavra

Quem é o investigador por detrás da comunidade de jogos no Técnico Taguspark?

Entrevista Rui Prada, “Técnico Taguspark numa palavra”

A palavra que reflete o Técnico Taguspark para Rui Prada é “Jogos”, destacando a oportunidade de desenvolver esta área no campus. O que muitos poderão não saber é o papel indispensável que este teve na história da forte comunidade de jogos existente atualmente.

O percurso de Rui Prada parece ter sido inevitavelmente delineado a partir do momento em que, aos 8 anos, recebeu pelo Natal o seu primeiro computador, “um Timex Sinclair 2068”. Rui Prada confessa que foi aí que o seu mundo se expandiu e se instalou uma curiosidade de perceber como é que tudo funcionava e o que é que poderia criar. É isso que o investigador, hoje em dia, também deseja ver nas gerações futuras, sendo essa uma das motivações para trabalhar no projeto “Engenharia para Todos”, uma parceria entre a Câmara Municipal de Oeiras e o  Técnico Taguspark, que visa promover a literacia científica e tecnológica da comunidade de Oeiras. 

Com um gosto adquirido no secundário por matemática e eletrónica, Rui Prada licenciou-se em Engenharia Informática e de Computadores, conhecendo o Instituto Superior Técnico enquanto aluno, investigador e, finalmente, professor. Atualmente, leciona várias unidades curriculares, sendo as suas preferidas aquelas relacionadas com Jogos, pois foi onde investiu mais o seu tempo. “Quando eu entrei como docente, um dos desafios que assumi foi criar disciplinas sobre desenvolvimento de jogos.” Ao longo do tempo, foi-se focando nesta meta e a comunidade de jogos no campus começou a crescer.  

Nuno Monteiro foi aluno de Rui Prada durante o primeiro ano em que este lecionou a cadeira de Design e Desenvolvimento de Jogos no Técnico Taguspark, em 2007 e o ex-aluno Técnico reflete que “foi muito gratificante e interessante trabalhar com o Rui. É uma pessoa bem-disposta, muito dedicada e com vontade de fazer acontecer e mudar, caso faça sentido.” Alguns dos projetos que decorrem anualmente iniciaram-se nesse ano, muito impulsionados pelo professor, como é o caso da primeira montra de jogos que, por sua vez, incentivou a criação do Laboratório de Jogos, que obteve uma sala própria no campus em 2015. “Pensámos na criação mais formal de um espaço onde os alunos pudessem estar em conjunto a desenvolver trabalho, mas que também se pudessem reunir para organizar várias iniciativas”. 

Um pouco mais tarde, em 2020, surgiu o GameDev Técnico. Desta vez, Rui Prada atuou apenas como impulsionador. “Eles são autónomos, mas eu gosto de saber que, no início, foi uma conversa que eu tive que originou a sua criação (…) e têm feito um excelente trabalho, sim.”, conta o investigador. 

Lembro-me de criar um jogo que, entretanto, se perdeu no tempo. Tinha 5 ou 6 níveis! Já era algo que ocupava quase a memória toda que eu tinha disponível!“. Desde então, Rui Prada não parou de criar jogos. No presente, desenvolve-os com o intuito de solucionar um problema ou ensinar algo. Um bom exemplo é o jogo “treme-treme”, em que os níveis são superados tomando uma série de decisões corretas em diferentes contextos num fenómeno sísmico. O “treme-treme” está disponível online, sendo utilizado em escolas para falar desta temática, e ainda está exposto no museu “Quake”. 

Outros projetos de Rui Prada também ganharam algum destaque, como o seu mais recente: ID-Gaming. O projeto resultou num jogo para pessoas com deficiência intelectual, tendo  ganho um prémio de boa-prática a nível nacional.  Rui Prada confessa que foi um dos jogos com características mais distintas a todos os outros que elaborou, pois teve de se questionar: “Como é que fazemos algo simples, mas que também seja desafiante e interessante?”. No final, o projeto teve bastante sucesso e terá um follow-up dentro da  temática da sustentabilidade.

A Inteligência Artificial também ocupa grande parte do percurso de Rui Prada e foi nesta temática que desenvolveu o seu doutoramento. Foi a sua associação com o INESC-ID que, posteriormente, se tornou a porta de entrada para o campus Taguspark. O seu principal objetivo de investigação era perceber como elaborar personagens inteligentes para jogos que não só conseguissem resolver tarefas, mas que também criassem uma sensação de que eram um membro da equipa. Este trabalho tornou-se muito complexo e o investigador percebeu que seria apenas o primeiro passo de muitos que estariam para vir.

Depois de mais de 160 artigos publicados na sua carreira de investigador, Rui Prada pretende agora retomar o foco a este pequeno sonho: “É um grande desafio… Criar um elemento artificial como membro de uma equipa, que tenha identidade, que se relacione com os seus elementos, que possa estar alocado a diferentes equipas, é difícil.” Há ainda muitas questões a responder, mas é desta forma que Rui Prada visiona o futuro. “O futuro é IA”, exclama o investigador. Está também envolvido num projeto “Humane-AI-Net”, fazendo parte de um consórcio de vários investigadores europeus de topo na área. “Aí, exploro vários conceitos como a colaboração de pessoas com IA, a criação de inteligência social em IA, como é que a IA aprende a colaborar e pode colaborar com uma pessoa”.

“O Professor tem uma personalidade incrível, não só é uma pessoa extremamente inteligente e empática, mas também transmite serenidade a quem tiver a oportunidade de conversar com ele”, declara João Amaral, Alumni do Técnico. Após um convite de Rui Prada para fazer investigação no Japão por 6 meses, João encontrou a sua futura esposa e mãe dos seus filhos. Esta oportunidade adveio de uma posição de convidado, em que o investigador coordena o atendimento entre o INESC-ID e o National Institute of Informatics.  “Isto permite-me enviar alunos para Tóquio, para o Instituto, e continuar a ligação com as pessoas e o trabalho de lá.” Ainda que tenha fortes relações internacionais, Rui Prada não negligencia o trabalho a nível nacional, sendo um dos fundadores da SPCV (Sociedade Portuguesa de Ciência de Videojogos).

Para além da sua ocupação profissional, Rui Prada também é um homem de família, com três filhos rapazes que parecem ter herdado o seu amor por jogos, em especial o filho mais velho. “Muitas vezes pedia-me, durante as férias, para fazermos um jogo juntos”, o grande pedido ainda não aconteceu, contudo isso não impediu o pequeno graúdo de 12 anos de explorar alguns editores de jogos, como o Geometry Dash: “O jogo tem um editor em que se consegue fazer muitos níveis combinando mais habilidades. Eu não percebo nada daquilo, mas pelo que o meu filho me mostra, já parece conseguir fazer coisas engraçadas”, partilhou Rui com um sorriso.