Técnico Taguspark numa palavra

Quem é o investigador destemido que ambiciona “levar uma equipa” ao espaço?

Entrevista de Rui Rocha, “Técnico Taguspark numa palavra”

Para Rui Rocha a verdadeira missão do Instituto Superior Técnico é “produzir engenheiros que o país precisa”. Assim, a palavra escolhida pelo investigador para refletir do Técnico Taguspark foi “Engenharia”.

Rui Rocha começou a sua jornada no Instituto Superior Técnico há mais de 40 anos, ainda o campus do Taguspark não tinha sido construído. O atual professor completou a sua licenciatura em Engenharia Eletrotécnica em 1981. “Sempre tive a noção que iria fazer algo ligado à engenharia e, já estava no técnico, quando descobri os computadores.”, contou Rui Rocha. Foi aí que descobriu o que, vinham a ser “os meus dois amores: A eletrónica e os computadores”. Nesse sentido, fez o seu mestrado e doutoramento em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, por entre as ruas da Alameda.

Ainda estudava quando lhe chegou o convite para lecionar algumas unidades curriculares, que aceitou de bom agrado. Rapidamente se apercebeu que gostava de ensinar e, desde então, não parou. A verdade é que o que faz o seu peito encher-se de orgulho e satisfação é estar na origem de várias gerações de profissionais. “Acabar por ter alguma interação com ex-alunos e ver que estão a ter um percurso positivo na sua carreira profissional é reconfortante: Mostra que vale a pena”, partilhou Rui Rocha. 

Não foi exclusivamente pelo gosto de ensinar que Rui Rocha se manteve na esfera universitária: “Naquela altura, a Universidade permitiu-me obter um certo grau de liberdade que o mundo exterior não me permitia”. Após lecionar muitas cadeiras, agora foca-se em apenas quatro, três das quais são dadas no curso que criou de raiz, enquanto coordenador, no campus do Taguspark: Engenharia de Telecomunicações e Informática (na altura, ainda se intitulava de Engenharia de Redes de Comunicação e Informação).

“Fui criado com muita liberdade e para o meu feitio inquieto era ótimo, mas quando iam à minha procura eu nunca estava onde era suposto. Mais tarde, ofereceram-me uma bicicleta e foi uma loucura total. Era frequente ir de Setúbal a Palmela por estradas secundárias com 10 anos”, revela Rui Rocha. Desde criança que convertia a sua inquietação em transformações dos mais variados brinquedos: “Lembro-me perfeitamente de querer adaptar um carro para ter um comando com fios. Eu tinha outro carro que tinha o comando, então resolvi passar essa maquinaria para dentro de um Cadillac. Aquilo acabou por não ficar muito bem, porque não coube no carro e a carroça ficou meio levantada”, confessou Rui Rocha a rir. 

Ao longo da sua vida, o investigador manteve a sua atividade física com dois hobbies: ténis e caça. “Atualmente já não jogo muito porque tive algumas lesões”, refere Rui Rocha, conformado com o assunto. Contudo, consola-se com alguns fins-de-semana, quando não está com a família, para ir caçar com a sua cadela treinada por si. “Gosto muito de animais e, para mim, a atividade física é muito importante, é algo que me descontrai. Falta-me é tempo para todas essas atividades”, explicou. Agora, na fase final de carreira,  Rui Rocha é um dos fundadores de um laboratório de investigação no campus do Taguspark,  o IST NanosatLab, que está muito perto de atingir o seu objetivo pioneiro e promissor: o lançamento para o espaço do primeiro satélite universitário português.

Tudo começou somente com a promessa de construir um satélite:  “Às tantas, entrámos nesta aventura, a ver outros satélites a ser construídos e a pensarmos: Porque é que não haveremos de fazer o nosso? E pronto, foi aí que começou.” Após estar concluído, a equipa voltou a questionar-se: “Este projeto é algo que acaba aqui? Lançamos o satélite e escrevemos uma linha no nosso currículo ou é algo que pretendemos continuar? Chegámos à conclusão que era algo que queríamos continuar. E o IST NanosatLab é uma iniciativa que vem exatamente na sequência deste trabalho.” 

Por fruto da experiência, Rui Rocha explica que, para construirmos algo, nunca o conseguimos fazer sozinhos. “Ter um grupo de pessoas com um determinado objetivo é muito importante para mim. Isso podia ser feito só com colegas, mas obviamente que outro gosto que também tenho é de passar os conhecimentos [e projetos] para os meus alunos”, assegura o engenheiro. 

O sonho que Rui Rocha deixa nas mãos das gerações seguintes é que este percurso, iniciado por este grupo, cresça, integrando mais alunos, mais desafios. “Essa era a minha maior ambição”. Ver a continuidade do seu trabalho.

Mais informações sobre o percurso do satélite: “Técnico prepara-se para colocar o primeiro satélite universitário português em órbita” e “Testes bem sucedidos: ISTSat-1 encontra-se a um passo de ser lançado para o espaço”.