Técnico Taguspark numa palavra

Inspiração e Ensino: A Jornada de Tiago Fernandes no Técnico Taguspark

Entrevista de Tiago Fernandes: Técnico Taguspark numa palavra

Tiago Fernandes caracteriza o Técnico Taguspark como “Acolhedor” devido ao seu registo familiar. O mesmo considera que as relações das pessoas são mais próximas e que o ambiente tranquilo ajuda a concentrar-se no seu trabalho.

Com mais de 40 artigos publicados, cerca de 40 seminários dados sobre o seu trabalho em mais de 20 locais distintos, Tiago Fernandes é um investigador e docente do Técnico. Neste momento, integra uma equipa de cerca de 60 cientistas no  Grupo de Bioengenharia de Células Estaminais (SCERG) do iBB (Instituto de Bioengenharia e Biociências) no campus Taguspark, enquanto leciona aulas de mestrado na área de Bioengenharia de Células Estaminais. “Eu gosto muito daquilo que faço tanto da parte da investigação, assim como do ensino no Técnico”, conta o investigador e docente.

Proveniente de um bairro típico lisboeta, Tiago Fernandes poderia ter sido um historiador se a vida o tivesse levado nesse sentido. “Desde o início que tive uma tendência natural para as áreas científicas, se bem que, aquilo em que era mesmo bom era História.” O ávido leitor confessa que ainda planeia focar-se neste interesse nos seus últimos anos de vida, embora a sua paixão pela área de Bioengenharia e Medicina Regenerativa não perca importância por isso.

“Estou aqui hoje por uma série de acasos”, conta, rindo-se com franqueza. Desde o primeiro sermão vindo de uma professora de matemática no ensino secundário que o levou a focar-se nos estudos, seguida por uma conversa com um estudante do Técnico que o fez querer ingressar no curso de Engenharia Biológica relacionado às áreas da saúde, até a um encontro inesperado com o Professor Joaquim Cabral nas escadas da Torre de Química no campus da Alameda, que resultou numa proposta de Doutoramento em Biotecnologia. Todos esses acasos levaram Tiago Fernandes a encontrar-se num avião em direção aos Estados Unidos da América, mais especificamente para o Rensselaer Polytechnic Institute (NY, EUA) onde sedimentou o seu encanto pela área.

“Eu ia sem saber, ainda hoje não sei como é que as coisas correram bem.” Sem quaisquer planos, Tiago aceitou o desafio que lhe foi proposto de braços abertos, planeando ficar durante 6 meses que terminariam em 2 anos. “Foi, provavelmente, a experiência mais marcante da minha vida, em termos dos meus traços de personalidade, da minha perspectiva e de como ajo com os outros.” Em questões profissionais, também foi uma oportunidade inigualável, sendo que o trabalho desenvolvido lá, após 14 anos, continua a ser um dos seus artigos mais citados, mantendo a sua relevância. 

Pouco tempo depois de entregar a sua tese de doutoramento, Tiago Fernandes foi prestigiado como jovem investigador promissor nas áreas de Bioengenharia e Bioprocessamento, com Malcolm Lilly Award, concedido pela European Society of Biochemical Engineering Science, em 2008. “É sempre bom ser reconhecido pelos pares. Deixa-nos de coração cheio outras pessoas dizerem que somos bons na nossa atividade, mas não é isso que nos deve mover”, explica o investigador. A verdade é que o momento em que se sentiu mais realizado, em toda a sua carreira, foi quando entregou a tese de Doutoramento em frente à sua família: “Foi a primeira (e única) vez em que a minha família viu aquilo que fazia. Até então, não entendiam bem as repercussões que podia ter, nem a sua importância. Por isso, para mim a maior realização foi essa: eles entenderem!”, contou emocionado.

O trabalho que Tiago e a sua equipa desenvolvem, em Bioengenharia e Medicina Regenerativa, visa entender mais sobre a regeneração de tecidos, com o objetivo final de desenvolver terapias baseadas em células e gerar células e tecidos que refletem melhor a função in vivo. “Pensando ‘à engenheiro’, o nosso trabalho é utilizar as células estaminais [células com o potencial de se especializar em qualquer tipo de células] como matéria-prima, para produzir um produto, neste caso, um tecido ou um órgão. Daqui a 20 ou 30 anos talvez dê para substituir uma função de um órgão por inteiro!” Assim, sendo uma área em desenvolvimento, a taxa de insucesso é grande, por isso “é preciso ter alguma capacidade de resistência ao insucesso e aqueles que mantêm um espírito resiliente são aqueles que gostam mesmo daquilo que fazem.” 

Cláudia Miranda, que já trabalha com Tiago Fernandes há 12 anos no laboratório, partilha que uma das coisas que aprendeu foi precisamente isso:  não desistir à primeira e que mesmo maus resultados são resultados. “Também aprendi que aceitar desafios profissionais fora da nossa área de conforto é, muitas vezes, o caminho para crescer mais na área de investigação”, explica a investigadora. 

Ao terminar o doutoramento, Tiago Fernandes pôde dedicar-se à investigação durante mais 6 anos no Técnico, coincidindo com a mudança do Laboratório da Alameda para o campus Taguspark. Foram anos difíceis com alguns cortes e restrições, mas agora olha para trás com orgulho de como a equipa cresceu e expandiu. “Nesses anos, percebi que tinha de trabalhar para melhorar o meu currículo e ter algumas perspectivas para o futuro.” E assim foi, em 2016, tornou-se docente do departamento e foi quando descobriu um outro amor: o ensino. 

“A surpresa foi, depois de me largarem num anfiteatro cheio de pessoas, perceber que não só tinha gosto em ensinar, como também o tempo despendido no ensino (na preparação das aulas, os conteúdos e a revisão daquilo que ia ensinar) me ajudava nas minhas atividades de investigação”. Hoje em dia, lecionar é o que lhe traz mais prazer e os prémios que gosta mais de receber são os que refletem o reconhecimento dos alunos a que deu aulas.

João Silva, antigo aluno de mestrado de Engenharia Biomédica, fez a sua tese no laboratório e conta que “Tiago Fernandes ajudou muito na aprendizagem de bastantes técnicas laboratoriais que se mostraram essenciais ao meu desenvolvimento como investigador, admiro bastante a capacidade que o Tiago tem para expor e explicar os conceitos de uma forma clara e preocupada”. 

Na atualidade, Tiago explica que, para si, o mais difícil em todas as atividades sejam elas de ensino, de investigação ou de outro cariz é a gestão das relações com as pessoas. “Gerir uma equipa, resolver conflitos, resolver questões mais práticas, lidar com os egos das pessoas…”, especifica. Contudo, Tiago é percepcionado com admiração e a proatividade na criação de eventos de socialização no seu grupo é bastante reconhecida. João Silva conta que atualmente ainda se reúnem, várias vezes, para discutir ciência e “são sempre discussões profícuas, das quais retiro sempre conselhos positivos da vasta experiência do Tiago”.