Campus e Comunidade

“Tínhamos um embrião, agora temos uma realidade que nasceu, cresceu e amadureceu”

O Instituto Superior Técnico, campus Taguspark, celebrou, no passado dia 6, 21 anos de serviços dedicados à educação e à investigação. Nesta entrevista, a professora Helena Galhardas, vice-presidente do IST para o campus reflete sobre o percurso trilhado, os principais ganhos, desafios e ambições.

O que representava inaugurar o IST Taguspark a 6 de novembro de 2000?

Naquela altura, estava fora de Portugal a fazer o doutoramento, portanto não acompanhei de perto o processo da inauguração. Mas sei, porque voltei para cá no ano seguinte, que havia grande expectativa no funcionamento deste campus principalmente pelo facto de estar inserido num parque tecnológico com empresas, cujo crescimento se perspetivava. Havia também grande entusiasmo de alguns docentes que vieram para cá lecionar e dos alunos que 2 – 5 vieram abrir uma licenciatura nova, pois era um campus novo e, portanto, com instalações melhores do que as existentes no campus da Alameda. (Devo dizer que o edifício inaugurado naquele dia era uma parte pequena do edifício existente na atualidade). O ambiente aqui no campus do Taguspark era também diferente do da Alameda. Como era, e é, um campus mais pequeno, as pessoas conheciam-se todas, inclusive os alunos e docentes, e era, de certa maneira, mais acolhedor do que a Alameda (que era um mundo!). Ainda hoje, pela própria arquitetura do edifício pedagógico que, no seu interior, parece um barco com os seus varandins, a probabilidade das pessoas se encontrarem, conviverem e colaborarem é grande.

Passados 21 anos, considera que se conseguiu materializar os sonhos que estiveram na base da inauguração do campus?

O sonho de estabelecer sinergias fortes com as empresas do Parque Tecnológico ficou um pouco aquém do que se imaginava em 2000. O número de empresas no Parque foi sempre crescendo, o campus do IST no Taguspark também, tanto em termos de infraestruturas (o edifício pedagógico foi sendo aumentado) como em termos de cursos oferecidos (alguns deles em exclusividade no campus como Engenharia e Gestão Industrial, Eletrónica e Telecomunicações e Informática), como em recursos humanos (alunos, funcionários, docentes e investigadores). Porém, a colaboração com empresas do Parque e das redondezas foi, a meu ver, sempre um pouco modesta. Existiram e existem orientações conjuntas de projetos finais de curso e teses de mestrado, alguns projetos em comum, mas colaborações de grande volume e que se prolonguem ao longo do tempo, são reduzidas. É algo sobre o qual devemos refletir e encontrar a melhor estratégia para conseguir atingir este objetivo. Em particular, agora, com o novo modelo de ensino do IST e a existência de projetos integradores, que são projetos que agregam uma equipa multidisciplinar à volta de um problema específico e constroem uma prova de conceito, parece[1]me ser uma oportunidade para alavancar colaborações mais estreitas e fortes com as empresas da envolvente de Oeiras.

Que campus temos hoje depois de 21 anos? Quais os principais ganhos?

Temos um campus com: 8 cursos, 4 licenciaturas e 5 mestrados (dos quais 6 são lecionados exclusivamente neste campus) que envolvem cerca de 1500 alunos de licenciatura e 3 – 5 mestrado, cerca de 70 alunos de doutoramento que desenvolvem aqui os seus trabalhos de investigação, 30 funcionários técnicos e administrativos, cerca de 50 docentes residentes, 20 investigadores não docentes, 7 departamentos com atividade no campus e 6 centros de investigação da esfera do IST com laboratórios temáticos exclusivos no campus. É um bom cenário! Quando comparamos com 2000, nessa altura, tínhamos um embrião, agora temos uma realidade que nasceu, cresceu e amadureceu. Temos uma oferta e uma atividade que pode e deve ser mantida. Mas temos capacidade para ter mais! Temos um campus de 13 hectares com possibilidade de construção de novos edifícios científico-pedagógicos que possam albergar mais áreas de investigação e ensino, temos um projeto de requalificação paisagística em curso para criação de um espaço que a comunidade Técnico e o cidadão comum possam usufruir, temos o projeto de criação de um Laboratório Aberto do Técnico que mostre a todos o que se faz no Técnico e que seja também uma plataforma de experimentação de ciência e tecnologia, e estamos num concelho com uma atividade científica e empresarial das maiores do País. Creio que podemos apoiarmos no que temos e catapultar-nos para chegar ainda mais longe!

E quais os maiores desafios?

Um dos desafios com que nos deparámos ao longo dos tempos foi o de sermos um dos campus do IST periféricos, que estão fora de Lisboa e também longe do centro de Oeiras, logo de acesso menos fácil. A partir de uma dada altura, o Técnico passou a disponibilizar um shuttle que liga o campus da Alameda ao Taguspark com várias viagens por dia, 5 dias por semana. Já resolve, em parte, o problema da acessibilidade, mas não na sua totalidade. À noite e ao fim-de- -semana, não há shuttle e os alunos do campus (em particular os da residência de estudantes) que não têm carro próprio estão muito limitados em termos de deslocações. É urgente uma linha de transportes mais rica e abrangente em termos de horários do que a existente e que ligue o Taguspark, por exemplo, ao centro de Oeiras ou Paço de Arcos. Numa outra linha de pensamento, é preciso criar mais vida no campus e redondezas: restaurantes, comércio, espaços de convívio, de lazer. Senão, as pessoas não querem trabalhar aqui e ficar aqui depois das aulas/trabalho. O outro desafio, numa perspetiva diferente, é sermos capazes de valorizar e investir no que o campus tem de diferenciador relativamente aos outros campi do Técnico. Se o campus oferecer 4 – 5 especializações de ensino e de investigação únicas, quem quiser trabalhar nesses tópicos, vem para cá para o Taguspark. E ter mais pessoas implica ter mais vida, o que cria necessidade de ter restaurantes, comércio, etc. E entramos num ciclo que se enriquece por si.

Como vê o campus do Técnico no Taguspark daqui a 10 anos?

De certo modo, já abri o véu sobre este assunto. Primeiro, acredito que teremos um campus com uma nova cara, com um espaço paisagístico de que todos possam usufruir. Segundo, temos know-how para ter um campus com ensino e investigação em: Espaço, Saúde, Sistemas Industriais, Transformação e Cidadania Digital, e Sistemas Urbanos Sustentáveis. São algumas das áreas temáticas em que já temos atividade e em que há vontade de ter mais. Terceiro, devemos ter um campus com uma oferta diferenciadora nas áreas mencionadas com um foco na criação de equipas multidisciplinares capazes de atacar necessidades e de produzir provas de conceito. Quarto, há que desenvolver um campus aberto à sociedade e à cultura que mostre o que aqui se faz e em que o cidadão possa participar, e que estabeleça uma sinergia entre Ciência e Cultura através do conceito de Artista Residente. E quinto, é importante caminharmos para um campus completamente integrado no ecossistema de Oeiras fornecendo o que o Técnico tem de melhor e criando sinergias com os institutos, as empresas locais assim como com o próprio município. E para celebrar o aniversário, o campus esteve de portas abertas para a comunidade.

É a primeira vez que este tipo de evento acontece?

Sim, decidiu-se celebrar o 21º aniversário do campus Taguspark com um Dia Aberto! Abrir as portas dos laboratórios, ter demonstrações, atividades, conversas com investigadores. Fazer um Dia Aberto era algo que já vinha sendo falado, de facto, à semelhança do que os nossos vizinhos, ITQB e IGC, fazem, por exemplo. Eles já têm muito mais experiência do que nós, mas o IST tem que começar também a tornar este tipo de eventos periódico. A verdade é que podemos ser os melhores em determinados tópicos de Engenharia, mas se a sociedade não nos conhecer, ficamos de certo modo, fechados numa redoma. Para o campus do Taguspark, é particularmente importante que o resto do IST e as redondezas conheçam as nossas áreas de conhecimento, pois elas são complementares ao que os nossos vizinhos de investigação no concelho fazem, são 5 – 5 certamente úteis ao tecido empresarial e, no fundo, esta divulgação ajudará a colmatar a desvantagem que temos por sermos um campus periférico geograficamente. E as empresas têm que saber o que fazemos para poderem recorrer a nós e assim criarmos as sinergias que já falei anteriormente. Finalmente, o Taguspark já disponibiliza, há vários anos, atividades para jovens, sendo as mais conhecidas as atividades no Verão da ULisboa e o Rob9-16, na área da Robótica e Eletrónica. No último ano, passámos a ter um projeto denominado Engenharia para Todos, em colaboração com a Câmara de Oeiras, que disponibiliza um conjunto de atividades periódicas para as Escolas de Oeiras, através do Programa Oeiras Educa, e para os Jovens, no âmbito da iniciativa Experimenta-te. Estas são atividades que já vimos criando o hábito de disponibilizar, de forma fixa, à comunidade fora do IST. O Dia Aberto é ir ainda mais longe e abrir as portas para a criação de outras dinâmicas de colaboração.

Para terminar, quais os votos para os 21 anos do campus Taguspark.

Que bom podermos celebrar juntos fisicamente! Que possamos continuar a crescer juntos e a contribuir para um Técnico ainda melhor!

 

Novembro de 2021