Pedro Santos: “Matemática é um instrumento que me permite compreender o mundo”
Quando questionado sobre o que queria ser quando crescer, o pequeno Pedro nunca hesitava em responder: “Cientista!” A predileção pelo saber surgiu ainda na meninice, tanto que, aos sete anos, Pedro já tinha escolhido a sua profissão do futuro.
Do sonho à realidade, imperava um longo horizonte temporal, o qual o cientista rematava com brincadeiras de fazer de conta: “Aos dez anos, comecei a fazer experiências com foguetes e pólvora. Ia comprar ingredientes à farmácia e fazia a minha própria experiência. Hoje em dia, seria preso se fizesse isso”, conta, entre risos.
Entre brincadeiras e sonhos, o certo é que, hoje, Pedro Santos veste literalmente a pele de cientista. Em 1991, licenciou-se em Matemática Aplicada e Computação pelo Instituto Superior Técnico. De lá, rumou para São Tomé e Príncipe, onde esteve durante um ano a fazer voluntariado. De regresso, ingressou no mestrado em Matemática Aplicada e posteriormente no Doutoramento em Matemática, este último na Alemanha. “Escolhi matemática, porque é instrumento que me permite compreender o mundo, é a linguagem que descreve tudo que passa no mundo e, de certa forma, é a linguagem de Deus”.
Formado, Pedro deixou a Alemanha e regressou um às suas raízes com a bagagem cheia de novas experiências e aprendizagens para trabalhar como professor. De 1998 até agora, são várias as gerações de alunos que passaram pelas suas mãos e aprenderam o raciocínio e lógica dos números.
Enquanto professor, Pedro Santos autodefine-se como um facilitador da aprendizagem que não se apega a uma única pedagogia. As mudanças que advêm com o tempo, nos dias de hoje, marcadas sobretudo pela evolução tecnológica e o acesso facilitado ao conhecimento, trazem também implicações para quem tem a missão de ensinar: “Antes, o professor era a pessoa que sabia mais sobre o assunto a que o aluno podia aceder, e portanto o aluno tinha uma certa necessidade de estar com aquele professor. Hoje em dia, não é assim e, naturalmente, o papel do professor muda”.
É no Técnico que Pedro Santos desenvolve as suas atividades de professor e investigador. Desde sempre muito direcionado à área de matemática e, mais recentemente, a design de jogos e inteligência artificial. A interdisciplinaridade permitiu ao matemático resgatar outras paixões, que, por sinal, o acompanharam desde muito novo. Tinha apenas dez anos quando desenvolveu o seu primeiro jogo de tabuleiro. Aos 16 anos, criou o seu primeiro jogo de computador. Poder agora desenvolver pesquisas nessas áreas, sem deixar para trás a matemática, é o que lhe dá maior gozo.
“Eu gosto de trabalhar assim, gosto de perceber coisas diferentes, gosto de estar sempre a aprender, fico farto de uma área quando não tem assim tanta coisa a aprender. Então, o meu desafio enquanto investigador é resistir um pouco à minha tendência natural de dispersar por muitas áreas e trabalhar em todas, e concentrar um bocadinho nalgumas áreas para obter mais resultados”.
Ter cada vez mais resultados para melhorar a qualidade de vida das pessoas é o seu ponto de partida. Na área da inteligência artificial, por exemplo, o investigador e os colegas estão no processo de pesquisa para a criação de agentes socialmente inteligentes, isto é, robôs enquanto agentes especiais para não só compreenderem as emoções das pessoas, como eles próprios emitirem emoções. Para o investigador, a pesquisa justifica-se por, no futuro, nós, os humanos, sermos, cada vez mais, acompanhados por robôs, principalmente na terceira idade. E para que esses robôs satisfaçam melhor as necessidades das pessoas, é importante que tenham certas capacidades: “Esses robôs terão que ter características humanas, no sentido que devem compreender as emoções das pessoas e também interagir com elas de forma emocional, criando relações com as pessoas”.
Uma outra pesquisa que o investigador Pedro Santos está a desenvolver tem a ver com a utilização de técnicas de machine learning, em português aprendizagem automática, para ajudar a compreender as leis. “Existem muitas leis e são muito complicadas. As pessoas, às vezes, querem saber alguma coisa de uma lei e não se percebe nada por causa daquela linguagem que as leis utilizam”. Para contornar situações deste género, “estamos a trabalhar num projeto para tentar utilizar técnicas de inteligência artificial, nomeadamente técnicas de machine learning, para conseguir com que o sistema consiga processar as leis, traduzi-las ou resumi-las numa linguagem que as pessoas percebam, e eventualmente conseguir responder algumas questões”.
A essas pesquisas juntam várias outras, umas como orientador de teses, outras como investigador sénior no GAIPS (Group of Al People and Society) do INESC-ID, no Técnico Taguspark. Mas, mais do que investigador, Pedro Santos é também escritor. Do seu ponto de vista, é igualmente importante transportar o conhecimento das revistas científicas para o público, ainda que para isso tenha que encarar um grande desafio, escrever livros. No total, já são três publicados, um sobre design de jogos e dois sobre matemática, todos em co-autoria com outros professores.
“A ciência evolui pelos artigos que as pessoas publicam em revistas ou conferências. Só que, para alguém que queira entrar numa área, às vezes, tem que estudar dezenas e centenas de artigos, sendo que é cada vez mais rápido o ciclo de publicações. No caso dos dois livros de matemática, uma das minhas preocupações foi precisamente extrair o conhecimento que estava espalhado por dezenas e centenas de artigos e tentar criar uma perspetiva global sobre algumas questões criando, assim, o foco do livro”.
Fora do Técnico, Pedro leva igualmente uma vida profissional ativa como designer de jogos, já editou jogos comerciais, criou empresas de jogos, já criou jogos de computador, já criou jogos de tabuleiros que foram vendidos em Portugal e vários outros países.
Quando não está a trabalhar, Pedro Santos gosta de estudar história, o seu hobbie favorito. Gosta também de estar com família e amigos. Pai de duas filhas, tentou puxar as meninas para as áreas de engenharia, mas ambas decidiram seguir caminhos diferentes: “São muito artistas. A mais velha fez design de comunicação, e é designer. A minha filha mais nova estuda filosofia, pinta e escreve. Um bocado diferente da minha área, mas eu acho que cada um deve seguir as suas vocações, apoio totalmente as decisões delas”.
Com os amigos, gosta de conviver, mas também jogar: “Jogos de tabuleiro é uma maneira de as pessoas estarem à volta de uma mesa e passar uma tarde ou uma noite divertida”.